segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Carta aberta ao mundo

Todas as palavras de todos os dicionários, vocabulários e idiomas do mundo seriam poucas para transmitir o que gostaria. Vou tentar fazê-lo da forma mais assertiva possível, sem atropelar a minha sensibilidade. Afinal, é ela que aqui me traz. 

Sou muitíssimo céptica em relação às tão famigeradas redes sociais. Sempre fiz muita resistência porque sei que no que à informática ou, se preferirmos, às tecnologias diz respeito, nada é infalível. Os que não pensarem nas repercussões que a partilha de determinados acontecimentos da sua vida e de informações pessoais pode ter, é porque são ignorantes, levianos ou indiferentes ou outras coisas quaisquer nas quais me incluo. 

Sou uma desconfiada por natureza. Sim… É este um dos motivos pelos quais utilizo um pseudónimo embora saiba de antemão que é muito fácil desmontá-lo. Também por isso utilizo outras alternativas que não vêm agora para o caso. 

Mas como nem tudo é mau descobri algo de muito bom com isto e de que só há muito pouco tempo me apercebi: as partilhas e, com elas, as aprendizagens e enriquecimento interiores. 

Verdade seja dita que também há muito “lixo” ou “ruído” – como quisermos chamar – que precisa de ser filtrado e em relação ao qual temos de estar muito atentos. Articular uma mente aberta com a capacidade de raciocínio lógico é difícil nos tempos que correm. ESPECULAÇÃO: é o monstro sem cara que assola o nosso quotidiano nas mais diversas vertentes. 

Adiante… Há algo que me conduz aqui e como considero que tudo está interligado por meio de canais invisíveis que, melhor ou pior, bem ou mal, racional ou irracionalmente nos influenciam ou condicionam, senti uma necessidade verborreica de dizer “coisas” e de questionar quem considerar enquadrar-se nos perfis ou souber e quiser responder. 

Não tenho a presunção de esperar respostas mas pode ser que as palavras fluam e, quem sabe, contribuam para algo, por muito pouco significativo que seja. 

Vida; Fauna; Flora; Plantas; Animais – que inclui milhões de variedades abrangendo o tão famoso Homo Sapiens –; Natureza; Universo; Infinito… 

Do fim para o princípio parece-me, curiosamente, que na prática vivemos “em rede”. Haverá, com certeza e por um lado, um ponto de equilíbrio cíclico e, por outro, um factor desestabilizador talvez por “culpa” da evolução. O primeiro consistirá, eventualmente, em “limpar”, reequilibrar, “reciclar” ou renovar a fonte de existência: a vida em qualquer das suas formas. O segundo é mais complexo porque tende a contrariar o primeiro: a existência irónica, controversa e paradoxal de um ser – o Homem; irónica porque provém das mesmas raízes de qualquer outro animal na verdadeira acepção da palavra - sem sentido pejorativo; controversa já que a sua presença consubstancia, por acréscimo, a predicação atribuída erroneamente por si mesmo à própria existência da sua ou de qualquer espécie, ser vivo ou tipo de vida ou ausência dela; paradoxal porque, tendo as mesmas raízes, o seu comportamento revela uma superioridade ilusória, arrogante e displicente. 

São muitos e cada vez mais os canais de “animais” que subscrevo - os que são diferenciados como “irracionais”. Considero-os de uma riqueza sublime com as fotos e frases que partilham e que mais não são do que a realidade espelhada numa pequena caixa tecnológica. É mais fácil admirá-las assim porque estamos “formatados” para vislumbrar o que retemos como objecto das nossas mais profundas fantasias e, quando confrontados com uma “utopia” real, questionamo-nos sobre a sua veracidade. Muitas vezes basta OLHAR pela janela e ver as tais fantasias desmistificadas e bem reais. Não lhes sabemos dar o devido valor precisamente porque estão ali… ao alcance do tacto, do olfacto, da visão, da audição, do paladar e de todos os outros sentidos que desconhecemos ou tendemos a ostracizar. 

Bolas que me disperso! Se é que ainda alguém está a ler isto vou já directa ao assunto. 

Cheguei, arrastada pela sociedade, a um ponto em que me sinto compelida a colocar questões que de inéditas nada têm e é por isso que me suscitam maior inquietação. 

Acredito que estamos cá para aprender mas sinto que, generalizando e cingindo-me apenas e só à fonte da qual todos provimos – seja ela qual for – não aprendemos absolutamente nada. Estamos carecas de cometer erros e, afinal, por mais que o digamos, NÃO APRENDEMOS COM ELES! Pior: descobrimos novas formas de voltar a cometê-los de maneira mais desenvolta, elaborada, subtil e dissimulada. É óbvio que estou a universalizar mas sei que felizmente há gente mais próxima de um ideal verdadeiramente harmonioso. 

Correndo uma vez mais o risco de ser presunçosa, isto é material para muitos técnicos da área de saúde mental (e não só). 

1ª questão: será que somos todos mentalmente saudáveis tendo como referência, não os parâmetros sociais em que vivemos, mas os que seriam verdadeiramente ideais? 

2ª questão: há actualmente alguém que tenha a capacidade ou a legitimidade de definir o que é realmente ideal? 

Sou susceptível. Incrivelmente melindrosa face a determinados acontecimentos a que assisto ou de que tenho conhecimento e nas mais diversas vertentes. 

Como é que é possível, passados milhares de milhões de anos, evolução, ERROS comprovados e assumidos, continuarmos a assistir, a fomentar e a praticar comportamentos que, ao contrário do que defendemos tão acerrimamente, nos distanciam de TODOS os outros seres, mas pelos piores motivos? 

Que moral temos para criticar mas também para defender determinadas doutrinas e princípios, quando, na prática, somos coniventes – silenciosos ou não – de todas as atrocidades que continuam a ser cometidas contra a vida em todo o seu sentido lato? – Friso que estou a generalizar. Infelizmente, a minoria não faz a força embora contribua, muitas vezes, para uma significativa diferença. 

Mas que raio de síndrome cega-surda-muda nos contagia, manipula, escraviza e faz de nós seres letárgicos passivo-agressivos legitimantes do “8 e 80”? Isto já nem sequer é um ensaio. É mesmo uma representação permanente de cegueira cíclica e interactiva em que o público se cinge a si próprio e a cada um de nós. 

Confesso: a partilha das fotos, dos testemunhos, da imaginação cinzenta e atroz que anunciam a possibilidade de tantas outras barbaridades, trouxeram-me aqui. 

Em poucas semanas o meu imaginário infantil foi violentado, desacreditado, e quase apagado. Resta-me uma réstia ou já me teria juntado aos “não vencidos” – a fracção dos que (acham) se sentem bem assim. 

Ignorância crua, eu sei. Ou credibilidade estupidamente ingénua. Ou ainda ambas e outras coisas. Padeço do mesmo mal que quase todos nós apresentamos: o desconhecimento, desinteresse ou ignorância praticamente absolutos dos terrores que acontecem no mundo pelas nossas próprias mãos – directa ou indirectamente. 

Talvez sejam essas as mesmas características que definem as nossas reacções perante estes acontecimentos, associadas a outras que, arrisco dizer, condicionam, moldam e referenciam o nosso carácter. É isto que me assusta verdadeiramente: a diabólica sociedade em que estamos embutidos, e que ao longo dos tempos tem vindo a esculpir e a manipular sinistramente as nossas mentalidades. Consequência: hoje podemos orgulhar-nos de sermos habitantes de um planeta maravilhoso mas trôpegos, impotentes, inertes, embrutecidos e escravizados. Estamos formatados para que os nossos cérebros processem apenas o banal e supérfluo. 

Chegados aqui, resta-nos o “8 ou 80”. Poucos são os que conseguem o mérito de manter o meio termo. 

Agora que escrevo isto, percebo que, de facto, não posso, não devo e muito menos tenho o direito de julgar quem quer que seja. Somos todos fruto da mesma máquina implacável. 

A sociedade em que vivemos e que, creio (quero acreditar), está a chegar ao fim é, salvo raras excepções, uma sombra corrompida, suja, cruel, devastadora e vergonhosa do que de pior há em nós – seres “racionais”. A meu ver, é a racionalidade que nos “monstrualiza”. Que nos afasta da nossa essência. Que faz com que deixemos de nos sentir ligados à terra. Sim… É essa característica que nos separa dos outros seres mas, na maioria das vezes, pelos piores motivos. 

Já passámos por períodos tão polémicos, reconhecidamente avassaladores social e moralmente mas que, apesar da nossa aparente evolução, permanecem no nosso inconsciente levando-nos a repeti-los indefinidamente. Sinceramente, e perdoem-me a ignorância, não encontro qualquer diferença entre os primordiais tempos da reconhecida Roma Antiga - alicerce da actual civilização, surgida de uma comunidade agrícola e que veio a tornar-se numa oligarquia desmesurada -; a época das colonizações; a “Santa” Inquisição; as guerras civis; a tão famosa revolução industrial; sem esquecer as guerras mundiais que arrastaram milhões de vítimas e que, na minha opinião, se mantêm vivas. 

À face de tudo isto, a minha réstia de genuinidade infantil comum a todos nós, questiona-se “porquê”. Porquê e para quê? O que é que move massas apenas e só pelo poder de poder? Porquê um hiato tão imensamente ridículo quanto monstruoso se, no fundo, apenas precisamos uns dos outros? Porquê expropriar o planeta; os seres vivos; as gentes, de sonhos, esperança, harmonia se todos podemos ter tudo? Acredito que o Homem tem um papel preponderante a desempenhar mas abomino a ideia de que seja imprescindível. Acredito que, por algum motivo, nos foi dada uma oportunidade para, em “rede”, podermos contribuir para uma verdadeira existência pacífica e conjunta sem limites, mas respeitando-os. 

Não sei se existe, na prática, um verdadeiro conceito de bem ou mal – lutas entre forças desiguais ou em aparente constante competição. Não sei nem me arrisco falar disso. Acho que são inúmeras as hipóteses. 

O que me interessa verdadeiramente é saber que habita em mim a certeza de que o nosso maior desafio é, independentemente dos credos, características, conceitos e vivências, ultrapassá-los provando que todos os seres são realmente parte de cada um e que nessa cadeia existe um ciclo infindável que não nos separa – une! 

Eu acredito que, de facto, “chegará o dia em que os homens conhecerão o íntimo dos animais”, e, consequentemente, o seu. Nesse dia, o crime deixará de subsistir porque deixaremos de nos perder. 

É este o meu sonho! É esta a minha utopia que a minha fortaleza infantil mantém acesa no meu coração!

4 comentários:

Anónimo disse...

Olá gostei muito de ler o que escreveste. escreves muito bem e acima de tudo exprimes bem os teus sentimentos e pensamentos (os quais partilho em grande maioria.Podemos sempre tentar compreender e fazer melhor e sobretudo incentivar e educar outros a fazê-lo. mas de uma coisa tenho a certeza será sempre dificil que consigamos endireitar o Mundo ou colocá-lo à nossa medida, mais dificil ainda será sentirmo-nos realizados e com a sensação do dever cumprido. faz parte da Natureza humana, somos seres insatisfeitos independentemente do que e como nos rodeia. Bjos

Ponto de Interrogação disse...

:-) Obrigada! Difícil é, mas quero acreditar que não será impossível...

Já agora, não sei que és, mas obrigada!

Beijinho!

António Silva disse...

Parabéns pelo seu texto. Compartilho as suas ideias. Penso que foi Confúcio que disse "Se queres mudar o mundo, primeiro muda-te a ti mesmo". Na verdade podemos pensar que a nossa mudança per si é insignificante como uma gota de agua. No entanto acredito que cada um de nos que desperta e partilha a sua experiência, sem medo da critica e com um coração forte, pode motivar outros, e pouco a pouco umas gotas podem virar um Oceano de mudança. Assim o desejo, e agradeço as suas palavras.

Ponto de Interrogação disse...

Olá António!

Antes de mais peço desculpa por só agora responder. Tenho andado recolhida...

Muito obrigada pelo seu comentário e pelas palavras bem como pela partilha de ideias. Não posso estar mais de acordo com elas e com o desejo que manifesta. Também eu agradeço o ter vindo aqui, a este espaço, por vezes esquecido por nós próprias, e por ter lido tão grande missiva. :-)

Obrigada e bem haja!